segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Existe vida após a morte?

Manuel Rodeiro, fundador da comunidade Ateus em Curitiba participou da bancada de debate
do programa PLURAL, realizado pela UFPR TV e exibido no dia 17/12.






Fonte: UFPR TV

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Deram a Deus o que é de César


O Banco Central do Brasil começou a colocar em circulação nesta segunda-feira (13/12) os novos modelos de notas de Real. As novas notas vão continuar com a inscrição “Deus seja louvado”.

Nós sabemos exatamente qual é o deus que o Estado Brasileiro está querendo que seja louvado. É o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, pai de Jesus Cristo. É o deus que tem mais fiéis por aqui. Só por isso eu vou usar a ótica bíblica para examinar a presença dessa frase religiosa no nosso dinheiro.

Os herodianos perguntaram para Jesus, no capítulo 22 de Mateus, se era justo pagar impostos para o Império Romano. Os herodianos estavam querendo colocar Jesus contra Roma.

Jesus foi malandro e respondeu que era para dar a Deus as coisas de Deus, e a César as coisas de César. E para embasar a argumentação, Jesus mostrou que na moeda da época tinha imagem e inscrições de César.

“Dize-nos, pois, que te parece: é lícito pagar imposto à César, ou não? Jesus, porém, percebendo sua malícia, disse: “Hipócritas! Por que me pondes à prova?Mostrai-me a moeda do imposto.” Apresentaram-lhe um denário. Disse ele: “De quem é esta imagem e a inscrição?” Responderam: “De César”. Então lhes disse: “Daí, pois, o que é de César a César, e o que é de Deus, a Deus.”

Se esta cena tivesse acontecido no Brasil, Jesus ia ter que ser ainda mais malandro pra escapar da pergunta. Ele até poderia dizer que o dinheiro é do Estado, afinal a Efígie da República está lá, mas com a inscrição “Deus seja louvado” fica difícil manter o argumento.

Ou seja, aqui no Brasil eles estão dando a Deus o que é de César.

Sob a ótica constitucional, me parece que a inscrição fere nitidamente o conceito de Estado laico. Nossa Constituição é extensa demais e eu não me arriscaria a bancar o especialista. Apesar disso, o artigo 19 da Constituição Federal me parece o suficiente para embasar uma argumentação legal contra a frase:

“Ar. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”

A título de curiosidade, as primeiras notas de Real impressas em 1994 não tinham a frase “Deus seja louvado”. Dá pra conferir isso no site do próprio Banco Central, na página do museu de valores.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MPF quer que Band se retrate por ofensas de Datena contra ateus .

O MPF (Ministério Público Federal) entrou com ação civil pública da Justiça para obrigar a TV Bandeirantes a exibir durante o programa Brasil Urgente uma retratação pelas declarações ofensivas do apresentador José Luiz Datena contra os ateus.

Durante a exibição de uma reportagem, no dia 27 de julho, Datena e o repórter Márcio Campos relacionaram o crime com pessoas que não acreditam em Deus. “...porque o sujeito que é ateu, na minha modesta opinião, não tem limites, é por isso que a gente vê esses crimes aí”.

Além disso, o apresentador atribuiu os males do mundo aos ateus. “É por isso que o mundo está essa porcaria. Guerra, peste, fome e tudo mais, entendeu? São os caras do mal. Se bem que tem ateu que não é do mal, mas, é ..., o sujeito que não respeita os limites de Deus, é porque não sei, não respeita limite nenhum”, disse.

Em todo o tempo em que a matéria ficou no ar, o apresentador associava aos ateus a ideia de que só quem não acreditava em Deus poderia ser capaz de cometer crimes. Datena ainda debochou dos telespectadores que assistiam ao programa: “Quem é ateu pode desligar a televisão, ou mudar de canal pois eu não faço questão nenhuma de que assistam o meu programa”.

O programa ainda realizou uma pesquisa interativa para saber a opinião da audiência sobre a relação entre violência e ateísmo. Diante de um grande de ligações que não concordavam com a tese do apresentador, Datena disse: “Muitos bandidos devem estar votando do outro lado".

Para o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão Jefferson Aparecido Dias, autor da ação, ao veicular as declarações preconceituosas contra pessoas que não compartilham o mesmo modo de pensar do apresentador, a emissora descumpriu a finalidade educativa e informativa, com respeito aos valores éticos e sociais da pessoa, prestou um desserviço para a comunicação social, uma vez que encoraja a atuação de grupos radicais de perseguição de minorias, podendo, inclusive, aumentar a intolerância e a violência contra os ateus.

“Evidentemente, houve atitudes extremamente preconceituosas uma vez que as declarações do apresentador e do repórter ofenderam a honra e a imagem das pessoas ateias. O apresentador e o repórter ironizaram, inferiorizaram, imputaram crimes, 'responsabilizaram' os ateus por todas as 'desgraças do mundo'”, afirma o procurador.

O procurador ainda ressalta que todos têm direito a receber informações verídicas, não importando raça, credo ou convicção político-filosófica, tendo em vista que grande parte da sociedade forma suas convicções com base nas informações veiculadas em programas de rádio e televisão.
Pedidos

Na ação, o MPF pede ainda que a emissora apresente um quadro com esclarecimentos à população sobre a diversidade religiosa e da liberdade de consciência e de crença no Brasil, com duração de no mínimo o dobro do tempo usado para exibição das mensagens ofensivas. Segundo o MPF, Datena criticou os ateus durante mais de 50 minutos.

A Procuradoria quer ainda que a União, através da Secretaria de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações, seja obrigada a fiscalizar o programa.

Fonte: Última Intância

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Brasil nasceu ateu (como república positivista)

A discussão sobre o Estado laico nos Estados Unidos frequentemente leva ambos os lados (religiosos e defensores do estado laico) a citar a formação do país como argumento. Para alguns, a América seria um país cristão desde suas origens e por este motivo o Estado teria o direito de institucionalizar a religião – especificamente o cristianismo.

A constituição americana não cita a palavra “Deus”. Não é nada, não é nada... e não é nada mesmo. Mas os chamados “pais fundadores”, pelo menos os principais, eram agnósticos e isso sim é relevante nesta discussão.

A constituição brasileira não apenas cita Deus em seu preâmbulo, como afirma que ele estava do lado dos constituintes: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático... promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”.














Deus estava protegendo essa galera animada


Acontece que esta constituição foi feita em 1988, muito depois da Proclamação da República, em 1889. A República Brasileira, inicialmente chamada de “República dos Estados Unidos do Brazil”, teve forte influência positivista. As palavras na bandeira nacional “Ordem e Progresso”, foram baseadas no lema de Auguste Comte, fundador do positivismo e da sociologia. "Amor como princípio e ordem como base; o progresso como meta". Comte era ateu.

Nas palavras da mãe de todas as pesquisas escolares, a Wikipédia, o positivismo “propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando radicalmente a teologia e a metafísica (embora incorporando-as em uma filosofia da história)”. Ou seja, tem que provar empiricamente pra afirmar alguma coisa.


Os “pais fundadores” da República Brasileira foram militares e possuem entre os seus conterrâneos contemporâneos uma fama bem pior que seus counterparts americanos. Apesar disso, quando escreveram a primeira constituição brasileira, também não citaram nenhum Deus.

Se os Estados Unidos tivessem um governo tão instável como foi o nosso, e tantas constituições como nós tivemos, provavelmente eles também citariam Deus em sua constituição.

Cada estado brasileiro também tem sua própria constituição, obviamente submissa à nacional, e cada uma delas também cita Deus, exceto a do Acre. O que poderia levar alguns a afirmar levianamente que nem Deus acredita do Acre (sorry, piada infame). E por lá tentaram incluir o todo poderoso na legislação através de uma ação judicial, mas não conseguiram.

A presença da palavra Deus na Constituição brasileira tem um peso muito mais simbólico do que prático. Mas isso representa apoio do governo ao monoteísmo, quando, como um Estado laico, ele deveria manter uma postura neutra quanto ao monoteísmo, politeísmo e ateísmo. Nenhum deus deveria ter sido citado na legislação.